quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Uma brisa de leste

Hoje domei o sonho. É verdade. O mais habitual é ser o sonho a gerir o tempo que leva a despertar aqui o rapaz, mas hoje antecipei-me.

Sempre considerei o sonho um autêntico biltre e a nossa relação nunca foi pacífica.

Quando era miúdo tinha pesadelos frequentemente; no mais recorrente encontrava-me num cenário caótico, em que juntamente com a minha família e amigos, fugia desesperadamente de um “serial-killer” que ia matando, um a um, essa gente que tanto amava. E eu sempre a fugir, a tropeçar, a chorar a morte de amigos e familiares, a fugir outra vez, mais mortes de familiares, mais choro, mais um amigo esventrado e tal! Horas nisto, pois o travesso deixava-me para último. Sempre! Quando finalmente enfrentava o sanguinário - já o cabrão tinha despachado parte da população de Alverca, Chelas, Olivais, Braga e, por vezes, Barreiro – cheio de raiva e confiante para acabar com a sua raça… acordava.

Mais tarde, já a tocar à porta da adolescência, tinha um sonho em que conhecia a menina da lagoa azul naquela ilha paradisíaca. Passava horas a tentar ganhar a sua confiança e a mostrar-lhe que era bastante melhor que o outro gajo que mais parecia o Marco Paulo versão ariana. Nadava mais que ele, pescava mais peixes, partia mais cocos e mergulhava de sítios mais altos; uma autêntica estafa aquele sonho. Quando finalmente os nosso corpos se aproximavam… acordava.

Portanto, é fácil de perceber que a minha convivência com o sonho nunca foi propriamente afectuosa.

Nos dias que correm sou uma pessoa adulta e, resultado disso mesmo, tornei-me mais tolerante e menos rancoroso. Já não me chateio com o sonho:

Deixa-o gozar contigo, Telmo! Não faz mal! – Penso, por vezes, quando acordo.

Mas hoje, passados largos anos, voltei a ter um pesadelo. Basicamente, sonhei que tinha apresentado a carta de demissão na minha empresa, a troco de uma excelente proposta de 600€ mensais, para trabalhar na "Brisa" da Moldávia.

Mais à frente, já no meu novo posto de trabalho, estava eu sentado - embrulhado num Anorak a ver os Jogos sem Fronteiras numa televisão de 10cmx10cm a preto e branco - quando um carro pára antes da cancela e uma mão se abre fora do vidro, mostrando-me uns trocos e um bilhete de avião: era o meu chefe a tentar convencer-me a voltar a Portugal.

Acordei logo, antes que aceitasse...



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