Madrugada...
Adormecera no sofá com um saco de gomas no colo. Apenas um pequeno urso vermelho envolto em açúcar escapara à minha fúria. Como terá isto acontecido? Nunca deixo nada ao acaso! Terá usado as suas pequenas garras engomadas para se manter agarrado ao topo da embalagem, camuflado entre as letras vermelhas do plástico? O manhoso! Mas eu estava cansado. Decidi que iria prolongar a vida do urso por mais umas horas. Mas não por muito tempo, poderia eu ter pensado. Iria servir de entrada ao nestum matinal. Longe de mim deixar ursos à solta em minha casa! Dormia descansado.... Passaram umas horas... De repente, senti uma comichão no nariz! Ainda dormente, passei instintivamente a mão na cara para aliviar a sensação incómoda. Já passou! Preparava-me para repousar novamente... Passados poucos instantes... ZÁS!!! Fui atacado de novo! Desta vez não fora uma comichão, mas sim uma pressão no interior da narina direita. O desconforto tinha sido tal que me obriguei a acordar. Levei um dedo ao nariz para tentar perceber o que se passava. E foi então que senti... uma substância áspera cobria a entrada da narina. Com o dedo, apercebi-me que a substância se estendia num trilho para baixo do nariz. Preguiçoso, envolto na escuridão, percorri o trilho com o dedo. Senti que a substância descrevia uma linha recta que ia desde a narina até à gola da t-shirt que usava. Continuei a seguir o rasto que se estendia para sul ao longo da t-shirt... lentamente... até que... o dedo tocou num bocado de plástico. NÃO!!!! Não pode ser!!! O rasto acabava no saco das gomas! O desenho começou a esboçar-se na minha cabeça. Mas... Não! Não pode ser! Não é possível! Peguei no pacote das gomas e saltei na direcção do interruptor da luz. Liguei o interruptor, mas... nada! Só faltava esta... não há electricidade! Ansioso, apalpei as paredes até chegar à cozinha. Abri uma gaveta onde tinha guardadas algumas velas e um isqueiro para momentos como este. Estava ansioso... acendi a vela... apontei de imediato a luz em direcção ao pacote e... NÃO!!! O impensável confirmou-se! O urso tinha desaparecido! Tentei controlar a imaginação, procurando na mente razões lógicas para aquilo ter acontecido. As gomas não se mexem sozinhas (repeti várias vezes para comigo). Já sei! Claro! Foi a minha mulher! Sou tão estúpido! Tirou o urso do pacote e espalhou o açúcar. Ela não gosta nada que eu adormeça no sofá. Que óbvio! Esbocei um sorriso no canto do lábio, como que controlando completamente os acontecimentos. Dirigi-me à cama para me vingar. Estava decidido em retribuir a gracinha. Ainda com a vela acesa numa mão e com o pacote das gomas na outra, abri a porta do quarto. Aproximei-me da cama, mas... a cama estava vazia?!?!?! Chamei por ela, mas não obtive resposta. Apalpei a cama para ver se estava quente. A cama estava fria! Passei a mão pela almofada... e... hã!!!! Outra vez?!? Não pode ser!!! Aproximei a vela da almofada... era... açúcar?!? A almofada estava coberta de açúcar! Mas que merda de brincadeira vem a ser esta?!?!? A ânsia passara a nervosismo. Procurei em todos os quartos. Em todos os cantos e recantos. Nada! A minha mulher tinha desaparecido! O que é que se passa aqui? A minha imaginação começou a explodir. Começaram a vir-me imagens à cabeça de filmes como o Seven e de séries de investigação criminal. Mas o que é que está a acontecer aqui? Tenho de me controlar. Calma! Tenho de raciocinar. As gomas não ganham vida. E muito menos raptam pessoas. Por outro lado... como seria possível alguém passar-me açúcar pela cara sem que eu acordasse? Mais estranho ainda... como é que eu não me apercebi da presença de alguém quando acordei com aquela pressão no nariz? Impossível! Calma! Calma! Primeiro tenho de acender as luzes. O quadro deve ter disparado. Abri a pequena porta do quadro da electricidade e preparei-me para ligar todos os botões. Mas... os botões estavam todos ligados!?!?! Então foi geral. Só pode. Quando estava para fechar a porta do quadro, reparei nuns fios soltos no quadro!!! Apontei a luz da vela... estavam cortados!!! Ao lado dos fios, pousado num pedaço de plástico, reparei em algo ainda mais macabro: uma tesoura minúscula feita de... GoMa?!?!?! MAS QUE BRINCADEIRA DOENTIA É ESTA?!?! (gritou a minha mente já assustada). No meio do pânico, algo me fez apontar a luz da vela para o saco das gomas. Li o rótulo vermelho. Noutra qualquer situação, aquilo que li não teria qualquer impacto na minha imaginação. Mas naquele momento, o meu sangue gelou... No topo do pacote, em letras vermelho-sangue, lia-se: Ursinhos Ninja. A palavra ninja fez disparar o meu coração. Soltou-se a imaginação. Lembrei-me da comichão e da pressão no nariz... O pânico instalava-se! A loucura começava a apoderar-se de mim. O urso ninja tinha entrado no meu corpo pela narina em busca de vingança. Comi toda a sua família a sangue-frio! Que horrores se esconderiam na pequena mente do urso ninja? Ele já tinha dado provas da sua competência desumana. Fugira do pacote, raptara a minha mulher, cortara os fios da electricidade e entrara no meu corpo. E tudo isto nas minhas barbas. A vingança seria terrível concerteza! Tinha começado a imaginar 1001 formas de tortura, quando senti uma dôr angustiante na barriga. Terrível e fugaz como um relâmpago, a dôr atravessou-me a zona abdominal. ARRRGH!!! Pronto! Começou... Sabia que este seria apenas o primeiro indício do horror que seguiria... Outra... AAAAAARRGGHHHH!!! Ainda mais forte! Sentia algo a cortar-me as entranhas. Algo a querer sair... as dores eram insuportáveis. Não havia nada a fazer... Estava prestes a desmaiar. Uma pequena lâmina de goma surgiu por entre as minhas tripas e, como que em forma de golpe final, rasgou um enorme buraco no meu ventre. Antes de perder os sentidos, por entre as tripas, consegui vislumbrar o urso ninja a caminhar na minha direcção com pedaços de goma de várias cores entre os braços. Eram os restos dos seus familiares. Os mesmos familiares que eu havia trocidado com os dentes. Especado em cima do meu peito, o urso ninja pousou resignadamente os restos mortais da sua família à minha frente e olhou-me nos olhos. Os seus olhos transbordavam um misto de tristeza e de sabedoria. Ainda me restavam alguns minutos de vida até me esvair completamente em sangue. Mas nesse momento... morri! Que direito divino teria eu de decidir sobre a vida de uma família de ursos de goma? Seria a vida deles menos importante que a minha? Não! A resposta estava no olhar do urso ninja... Não! A vida está em todo o lado. Nas gomas, no pacote, na vela que ainda tinha na mão... Somos todos feitos da mesma matéria. Estamos todos interligados. Caminhamos todos para o mesmo fim... Merecia morrer. Queria morrer. Reuni todas as energias que me sobravam para manter contacto visual com o urso e disse: desculpa... Desculpa porquê??? - respondeu uma voz aguda. Levanta mas é a peida do sofá e vai trabalhar, que já estás atrasado como de costume. E vê lá se não entornas o açúcar do pacote para cima do sofá. Hã?!?! Abri os olhos e vi a imagem enovoada da minha mulher. Olhei para o pacote das gomas... ainda lá estava o urso vermelho coberto de açucar. Olhei novamente para a minha mulher. Levantei-me num pulo e beijei-a... beijei-a como se fosse a primeira vez! Estava feliz... não só por estar vivo, mas por sentir que me tinha sido dada uma nova oportunidade de viver. A mensagem tinha passado. Olhei em redor. Estava tudo no mesmo sítio. A casa era a mesma... mas era tudo diferente... sorri...
quarta-feira, 16 de julho de 2008
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3 Únicos comentários disponíveis::
Tu andas a passar tempo demais em casa ehehehehe... ahahahah..
Bem-vindo a este grande blog. Esqueci-me de avisar; este espaço está para o Júlio de Matos, como os testes psicotécnicos estão para o Exercito.
É uma triagem. Mas, como isto anda, ainda temos alguns anitos até nos virem buscar.
E como cantarolavam os deuses:
"Always look at the bright side of life..."
Abraço
Bom dia! Sei, através do teu perfil, que és uma habitante de Alverca. Como tal, convido-te a juntares ao meu blog, se possível, ou apenas a expressares a tua opinião:
alvercaalerta.blogspot.com
O blog é recente e tem como ideal dar a conhecer os pontos fracos da cidade para que, posteriormente, os possamos remendar e viver, no futuro, numa cidade melhor.
Se tiveres disponibilidade, agradecia a tua parceria. Para mais informações deixo o meu endereço:
otario.blogspot@hotmail.com
(Nota: este endereço refere-se à página do meu blog pessoal e ao recente blog alvercaalerta).
Espero por ti...
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