Ontem à noite fui surpreendido com uma visita em minha casa. Na realidade não estava bem-disposto e senti a falta de sorriso como uma “falha” que me manteria afastado da companhia. Em virtude do mau humor, julguei que a sua presença nada iria acrescentar ao meu dia, e que seria apenas mais um litro de óleo no já oleado motor que faz girar a rotina; contudo, à parte do meu aborrecimento, recebi-o naturalmente como um irmão, pois de facto o considero como tal.
A Isa preparava o jantar enquanto a televisão temperava o início das nossas conversas com o avinagrado filme “Delírio em Las Vegas”. As conversas eram de uma normalidade pálida mas, mal começámos a jantar:
- “Olha! Vês? Tem um óptimo aspecto! Essa cena branca por cima do bife é “molho macho mel” não é?”
Minutos depois - já eu tinha devorado o bife, o macho e o mel – quando me pediu para lhe colocar uns álbuns no seu mp3. Tudo bem, fiz uma escolha e lá copiei as minhas sugestões. Logo se aprontou a testar:
- “Epá, gosto deste Nittin Sawhney! Em que género de música o enquadras? Isto é tipo Kid Rock, não é?”
E logo depois:
- “Olha isto é muito fixe. Estive aqui a ouvir uma faixa (“O atirador”) deste Lenine! Este gajo é brasileiro, não é? Bem me parecia.”
Um tempinho mais tarde, falando da vida dos sogros:
- “Sabes lá, à volta da piscina até colocaram um piso anti-aderente para não escorregarem.”
De seguida o entusiasmo pelo benefício que a empresa da namorada lhe concedeu recentemente:
- “Agora ela tem direito a 40% de desconto no biodiesel, vê lá. Altamente! Pena é que tenha comprado um carro novo… a gasolina.”
E lá desviou a conversa para terrenos de cultura geral:
- “Telmo, estive a ver o ranking dos mais ricos no mundo, naquela revista americana, a Erbs, e o Bill Clinton já não é o mais rico do mundo. “
E continuou com Maserali (suposta localização da fábrica da Ferrari), Malkovich (nº3 do ranking ATP), etc, etc, pormenores (não todos!) que fui registando no meu portátil enquanto falávamos (com o intuito de aproveita-los, de forma descontextualizada, no futuro).
Mas, antes de se despedir, num inesperado momento metamórfico, olhou para mim e:
- “Amanhã ganho o euro milhões e, antes de dizer à minha família, pago-te a casa, compro um carro à tua escolha e deposito uns milhões de euros na tua conta. Se quiseres continuar a trabalhar, isso é lá contigo. Férias não te pago pois vais sempre para onde eu for. Ouviste?!”
(ouvi perfeitamente; estava longe, mas ouvi-te de uma forma que nem imaginas)
Sorri e dei por mim bem-disposto. De que me interessam as falhas de 2 horas de comprimento, se ele as saltou em 10 segundos?
Entretanto o frenético filme deu lugar à paciente novela da TVI e pensei:
- Afinal o óleo trazia areia misturada.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
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2 Únicos comentários disponíveis::
Bom amigo, há coisas que nunca mudam!
Abraço
E S P E C T A C U L A R !
Um pouco de "Blogseve", surpresa a cada linha e muita piada.
Continuarei atento
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